terça-feira, 5 de outubro de 2010

A Decidofobia do STF e a estória de Chico Anísio

Por Roberto Carlos Rodrigues

Ontem, o Supremo Tribunal Federal (STF) deixou claro para o povo brasileiro que sofre de profunda Decidofobia, que é o medo de tomar decisões. Foram horas e mais horas de discursos. Dias e mais dias de notícias, votação e mais votações, empates sobre empates e depois... Nada decidido, esclarecido, definido. Simplesmente, os juízes do STF não encontraram uma opinião coesa sobre a Lei da Ficha Limpa e por conta disso, deixaram em aberto a discussão sobre o veredicto. Os advogados e conhecedores profundos das leis dirão que essa sessão foi um digno exemplo de democracia no STF e que o empate mostrou os posicionamentos dissonantes dos juristas. Algo realmente louvável. Outros argüirão que é da discussão ampla que se fomentam os esclarecimentos mais bem lapidados e, portanto, dignos dos umbrais mais envernizados das leis. Também certos. Porém, a sessão do STF que não decidiu nada, me fez lembrar uma das estórias do humorista Chico Anísio. Vejamos:

Chico Anísio conta uma alegre estória sobre um time de futebol que foi jogar numa outra cidade e utilizou um caminhão velho como transporte. O percurso entre as localidades era cheio de ladeiras. Portanto, nas subidas todo mundo descia do caminhão para empurrá-lo, pois seu velho motor estava muito fraco. Logo adiante sempre tinha uma descida e todo mundo descia para segurar o caminhão que não tinha mais freios. Entre subidas e descidas contaram-se mais de cinqüenta. Quando por fim os atletas chegaram exaustos ao seu destino, um deles, - em toque genial de inteligência -, disse com profundo discernimento filosófico: - Seria melhor se a gente tivesse vindo andando. Essa estória serve para fazer uma paródia com a reunião do julgamento do STF sobre a Lei da Ficha Limpa.

Para nós, os leigos e comumente chamados de povo e às vezes de eleitores, bastaria o STF, antes dessa ‘ampla discussão sem fim’ emitir uma nota de quatro linhas dizendo: “A Lei da Ficha Limpa valerá somente para as próximas eleições. No ano que vem, depois das nossas férias, iremos nos reunir para estudar profundamente o assunto.”

Pronto! Pronto! Pronto! Estava resolvido o assunto por ora. Os candidatos seriam votados e depois julgados. Quem não tivesse a Ficha Limpa e fora eleito, iria entrar no mundo das liminares e aguardar o seu julgamento final. Mas não foi isso que vimos ontem no STF. Na verdade, o que vimos ontem, nessa reunião, nos deixou simplesmente sem entender o porquê de tantas discussões sem uma única decisão.

A decidofobia do STF deixou muita gente triste. Isso do lado dos eleitores. Do lado dos candidatos, a alegria é geral e muitos destes até defendem a ‘meia opinião’ do STF sobre esse assunto dizendo que realmente o tema é complexo, difuso e merece mais tempo para análise.

Em minha opinião, os holofotes estão fazendo um mal danado em nosso país.

Uma pergunta então deve ser feita como selo final deste artigo:

Quem saiu ganhando com o empate do STF?

Relembrando a estória supracitada de Chico Anísio, se essa reunião do STF não tivesse acontecido, para as próximas eleições nacionais, ela não faria falta.

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