terça-feira, 5 de outubro de 2010

24.720.186 motivos para não votar

Por Roberto Carlos Rodrigues

O sistema político brasileiro está falido para 24.720.186 conterrâneos que simplesmente não compareceram para votar nesse último domingo. Esses votos fizeram falta para todos os três primeiros candidatos ao cargo de presidente da nossa república. Para Dilma Rosseff bastava apenas 14% dos eleitores que não compareceram para votar. Se isso ocorresse, hoje seria outro dia. Para José Serra vencer no primeiro turno ele precisaria de mais de 30% dos votos destes descrentes. Aos olhos dos dados do TSE a abstenção até que diminuiu nas últimas eleições, mas mesmo assim nenhum partido foi capaz de motivar essas pessoas nos seus atos de cidadania. Essa alta taxa de abstenção deve ser o grande motivo de mobilização das campanhas eleitorais de Dilma e Serra nesse segundo turno. Alguns analistas políticos acreditam que esses eleitores fazem parte da massa morta do eleitorado nacional e que não adianta tentar motivá-los. Já a cúpula do PT se manifestou nessa manhã de segunda-feira e disse que vai tentar obter alguns votos dos tantos milhões dos que não gostam de votar. A turma de Serra está mais preocupada com a massa da onda verde de Marina Silva.

O modelo político brasileiro está ultrapassado e precisa de profundas reformas. Nem FHC nem Lula tiveram coragem para propor mudanças nas leis eleitorais e por conta disso foram perdidos 16 anos em retóricas, alusões e divagações sobre o tema. Nada de concreto foi feito. Quem ganhar as próximas eleições presidenciais e tentar mudar o modelo político brasileiro não terminará o mandato. Isso é fato. Apesar de grave, é verdadeiro. Nessa casa de marimbondos ninguém mexe! Sabe-se muito bem disto em ares brasilienses.

Esses mesmos políticos procrastinadores que não querem mudanças nas leis eleitorais brasileiras se ferem mortalmente nas suas próprias lâminas afiadas nas suas fraquezas de caráter e indecisões políticas. O PT e o PSDB, talvez não tocarão nesse tema durante esses próximos dias que antecedem as eleições do segundo turno. Não farão isso por falta de coragem e por saberem que muitos brasileiros só votam porque são obrigados por lei e mesmo assim mais de 24 milhões preferem encarar essa lei e simplesmente não votam.

Como aqui já noticiado em outro artigo, 48% dos eleitores brasileiros disseram que não compareceriam para votar se o voto fosse facultativo. Por outro lado, dos mais de 24 milhões que ontem não compareceram para votar obrigatoriamente, 26% disseram em pesquisa que votariam se não fossem obrigados neste ato. Ou seja, são exatamente os 6,24 milhões de eleitores que faltaram para definir as eleições presidenciais de ontem.

O dilema é complexo e precisa ser revisto. A taxa de abstenção nos países de voto livre é superior a 38% em média e chega a 52% no norte europeu. Se o Brasil quiser ser realmente um país democrático precisará se adaptar as realidades do século 21 e não ao modelo de curral eleitoral proposto pelo sistema do coronelismo do século passado.

Dilma e Serra adorariam descobrir um jeito para motivar esses eleitores que adoram abster. Como não sabem fazer isso, preferem colar no prestigio de Marina Silva e lhe arrancar alguns possíveis votos.

A verdade desta segunda-feira foi que Dilma acordou triste, Serra estava muito alegre e Marina estava afônica. Nada como um dia atrás do outro e uma noite de verdades no meio deles. Nem Dilma nem Serra vão cantar vitórias antes da hora, pois a abstenção no segundo turno pode ser ainda maior e mais maligna.

Para quem quiser se aprofundar no assunto sugiro o estudo: Crise política: o problema da abstenção eleitoral no Brasil e no mundo, de autoria do professor Fagner Torres de França. Saiba mais aqui